Ter sem ter

É difícil explicar, mas aprendi a ter você, sem ter. Complicado, né? Tão difícil de explicar quanto de entender. Não sei nem se eu entendo tudo que se passa.

E faz tempo que é assim. Ser, sem o ser totalmente. Estar, não estando. Aprendi a driblar a saudade. Acho que virei o Pelé dos dribladores de saudades. Já bati recordes. E aprendi a não dar muita bola pra isso não.

Nem escuto mais a nossa música. Apesar de não parecer, não nasci pra sofrer não, nem pra ter daqueles amores dos quais se morre e pelos quais se mata. Não mesmo. Vivo esse amor, assim, desse jeito, porque simplesmente não vejo outra saída. Estou presa a ele. E deliciosamente presa. Tão maravilhosamente presa.

Mas isso não significa que vou anular minha vida, ou ficar rabiscando nomes nas contracapas de cadernos e livros. Nem pensei em como nosso nome ficaria se casássemos [mesmo que esse assunto seja eterno entre nós]!

Suas cartas, as leio e guardo na caixinha de tênis decorada e lá elas ficarão. Não vou reler. Como disse, não nasci para ficar suspirando pelos cantos, ou me derramando em lágrimas a vida toda. Por isso evito essas coisas que obviamente trazem você à tona.

Quando falo contigo, quero sentir as alegrias, e até compartilhar algumas tristezas. Mas naquele momento apenas. Depois, quando a tua lembrança me vem, vivo-a por um pouco e a mando pastar.

Já sofri tanto [e ainda sofro às vezes], que acabei percebendo que nosso amor é bonito demais para se perder em um mar de lágrimas e chororôs.

Prefiro estar inteira e feliz para, outra vez, me perder nesses teus braços e me ver nesses teus olhos.